[Resenha] Passarinha
30.10.14Passarinha
No original "Mockingbird", escrito pela holandesa Kathryn Erskine, com 224 páginas e publicado no Brasil pela Valentina.
"Um filme não é tão bom quanto a vida real. Não tem nem termo de comparação."
Caitlin é uma menina autista, portadora da Síndrome de Asperger, fazendo com que ela tenha dificuldade várias vezes de compreender completamente o que acontece ao seu redor, especialmente no que se refere aos processos de interações humanas. Tudo fica ainda mais complicado depois que seu irmão, Devon, é assassinado com um tiro no peito durante um massacre no colégio onde estudava.
Com isso, além de sua já dificuldade para Captar O Sentido de certas coisas, Caitlin também tem que lidar agora com a falta do irmão - que sempre a ensinava como se comportar quando o mundo parecia confuso demais para ela -, com os olhares piedosos e sussurros nos corredores e com uma profunda crise depressiva de seu pai. Um dia, porém, após ouvir num telejornal a palavra desfecho, Caitlin inicia sua busca para descobrir como um desfecho, e princialmente qual desfecho, pode ajudar sua família a seguir em frente e superar a trágica perda de Devon.
"Os olhos são as janelas da alma. (...) Quando você olha dentro dos olhos de alguém pode ver muito sobre a pessoa." [pág. 138]
Ultimamente, nas minhas aulas de Artes na faculdade, eu ouvi várias vezes a professora dizer que os novos artistas estavam apostando mais no como se vê, não mais no quê; e eu acho que esse princípio também está regendo a literatura, principalmente nos sick-lits. Delicadeza é a palavra de ordem deles, construindo muito com pouco, e Passarinha, da autora Kathryn Erskine, também conseguiu esse lindo feito.
Mesmo com um vocabulário simples, poucas páginas e poucos personagens, a dimensão dessa história é sublime. A tragédia nos afeta diariamente, e nós aprendemos a superá-la confiando no tempo. Mas e quanto uma pessoa diferente, como a Caitlin que é autista... Como ela reage à tragédia? E criar uma história juntando essa pergunta com o tema da violência e perdas foi o que fez da minha leitura de Passarinha uma bela experiência de comoção e aprendizado.
"Às vezes eu leio os mesmos livros uma vez atrás da outra. O bom dos livros é que as coisas do lado de dentro não mudam. (...) E não importa quantas vezes você leia aquele livro as palavras e imagens não mudam. Você pode abrir e fechar os livros um milhão de vezes que eles continuam os mesmos. Têm a mesma aparência. Dizem as mesmas palavras. Os gráficos e ilustrações são das mesmas cores. Livros não são como pessoas. Livros são seguros." [pág. 42]
Caitlin é uma personagem extraordinária, ela gosta de desenhar e procurar significados para as palavras em seu dicionário. Ao mesmo tempo, não gosta de cores porque elas deixam o mundo confuso, e não é a melhor pessoa para fazer amigos. Mas é determinada, prestativa, cheia de qualidades, cheia de defeitos... A vida dela já é vista em preto e branco, e em sua busca por um desfecho, por uma superação, Caitlin acaba percebendo que consegue superar e ir além de muito mais do que imaginava.
Por fim, a narrativa de Passarinha é construída através de jogos de palavras e referências, como o filme "To Kill A Mockingbird" (O Sol É Para Todos), que terá grande relevância para se compreender o próprio título do livro. A autora já foi perspicaz para criar essas relações entre referências, mas, o melhor na história é que, mesmo com a capacidade limitada da Caitlin (cujo autismo será percebido pelo leitor por conta de suas dúvidas, manias e atos - sem precisar de longas descrições), ela é capaz de entender o que muitos não veriam; capaz de captar o sentido quando muitos já desistiram de procurar por um.
Os heróis nem sempre são os mais inteligentes ou os mais bonitos ou os mais fortes. De novo, Passarinha não vai trabalhar no que você vê, mas no como. Nos acostumamos a enxergar o diferente com uma percepção limitada, ou como borrões ou ainda a nem vê-los, mas a história de Caitlin é um convite para enxergar a vida do ponto vista de outra pessoa. E é uma sensação nova e boa perceber como um mundo limitado é sim capaz de atos ilimitados. Por isso, Passarinha é leitura mais do que recomendada.
A primeira frase destacada é uma fala do pai da Caitlin. E vocês, também acreditam que a vida real seja melhor do que um filme?
14 Bilhetes
Por conta de Claros Sinais de Loucura, ontem mesmo estava procurando resenhas de O Sol É Para Todos, pois têm muuuuuuuuitas referências dele no livro. Agora leio essa resenha e descubro que Passarinha também tem... Só aumentou minha vontade.
ResponderExcluirDeve ser mesmo uma leitura maravilhosa, fiquei bem curiosa. E, imagine, conseguir sentir o que uma criança autista sente, como ela vê o mundo ("sem cores", no caso de Caitlin). Adorei mesmo!
Beeeeeeeeeeijos!
http://listadasnuvens.blogspot.com/
Olá! Poxa, que legal saber que em Claros Sinais de Loucura também tem referências sobre O Sol É Para Todos, ele é um filme/livro que eu também tenho muita vontade de ler! Em "Passarinha" é o filme favorito da Caitlin! ;) Beijos!
ExcluirEsse livro me chamou atenção desde a primeira vez que vi sua capa.
ResponderExcluirA sinopse chamou muito minha atenção, mas são resenhas como essas que me conquistam completamente!
O livro parace ser incrível. Já está na minha lista de desejados.
Beijos
Construindo Estante || Facebook Tem promoção de Halloween lá no blog. Não fique fora dessa, hoje é o último dia!
Me interessei pelo livro. Quando escuto que um determinado livro foca em uma personagem com a doença "x", fico com um pé atrás porque são raros os casos em que o autor sabe lidar com a doença com alguma propriedade. Não que um autor não possa escrever sobre algo que ele não vive, claro que não, mas os melhores livros sobre depressão, por exemplo, foram escritos por depressivos, e esses livros raramente anunciam que a personagem sofre da tal doença, ela apenas é notada pelo leitor, porque a descrição das coisas é assim tão perfeita. Esse livro me pareceu ser mais ou menos assim.
ResponderExcluirQuanto à observação da sua professora, é porque o mundo já está saturado de arte feita partindo do que as coisas são. Por um lado, também está saturada de arte que procura ver o modo como as coisas são vistas, mas não parece porque o como é subjetivo, cada peça de arte (e quando me refiro à arte, pode ser em qualquer forma) se torna individual por causa da presença da visão pessoal do autor. Livros, por exemplo, hoje não precisam ser tão descritivos. Antes da fotografia, Balzac era a melhor referência para uma pessoa conhecer Paris sem nunca ter passado na cidade, hoje basta pesquisar fotos no Google. Agora uma visão individual de Paris, que não foca nos detalhes mas na experiência interna, é sempre diferente, dependendo de quem vê.
delirandoeescrevendo.blogspot.com.br
Li esse livro é se tornou favorito. Mano eu simplesmente amei, não tenho palavras para dizer sobre ele, vontade é de presentear todo mundo com o livro.
ResponderExcluirLinda resenha
http://contodeumlivro.blogspot.com.br/
Olá minha linda Tici, como estás?
ResponderExcluirVi suas fotos do instagram desse livro e deste então estou simplesmente apaixonada por Passarinha e 1 página de cada vez <3. Ao ler sua resenha foi uma grande surpresa ao saber que neste livro há citações sobre o filme O Sol é para Todos. Li a pouco tempo Claros Sinais de Loucura e nele também há muitas cenas falando sobre este livro e você não acredita, estou lendo ele <3<3<3. O Sol é para todos é simplesmente maravilhoso mesmo estando no início. Principalmente por ser contada no ponto de vista de uma criança! Enfim, fiquei muito feliz por haver citação no Passarinha também. A capa me intrigou bastante e já estou encantada com a história de Caitlin. Acho uma inspiração personagens, principalmente crianças que tem algum problema e tenta encontrar uma solução, uma abertura para isso.
Com certeza irei ler e saborear esta linda história.
E o que dizer da sua resenha? Simplesmente perfeita.
Obrigada por me trazer o prazer de querer ler livros tão belos assim <3.
Muitos abraços e beijos minha querida leitora. Muito sucesso também.
http://chuvaelivros.blogspot.com/
Já vi muuuuitas pessoas falarem bem desse livro, está na minha lista a tempos, pena que nunca acho nas livrarias. A sua resenha me instigou ainda mais!
ResponderExcluirÓtima resenha!
www.espasmoocular.blogspot.com
- Lucas
Oi, Tici! Linda resenha, parabéns :)
ResponderExcluirTenho uma enorme vontade de ler esse livro desde seu lançamento, e foram surgindo resenhas e mais resenhas elogiosas em relação a ele. Mas acabei deixando passar. Com certeza esse será um livro que assim que o vir em uma livraria, o comprarei <3
Beijão
Olá tudo bem?
ResponderExcluirÉ minha primeira vez aqui em seu blog e tenho que confessar que gostei bastante do seu cantinho, principalmente pela sua organização e as postagens feitas aqui.
Tenho que lhe dar os parabéns, pois isso me chama bastante atenção para visitar um blog.
Outra coisa é sua resenha que achei muito bem escrita e bem desenvolvida por conta do livro, pois eu estava bastante interessada em ler esse livro, mas até hoje eu ainda não senti animo de comprar. Mas dizem que a história é muito bonita e tenho curiosidade de saber como é e tirar minhas proprias conclusões. Espero poder gostar bastante, mas vamos ver, porque a cada dia que passa vai saindo mais lançamentos e a gente acaba deixando vários livros que queriamos pra trás hahahahah...enfim...
Mais uma vez parabens viu?
Espero que possamos ser boas amigas
Se cuida linda e um bom domingo e uma otima semana pra vc
lovereadmybooks.blogspot.com.br
Olá, Silvana! Muito obrigada pela visita e pelos elogios, fico extremamente grata e feliz! Vou conhecer o seu blog agora também, retribuir a gentileza ;) Também espero que a gente se torne amigas, beijos! :*
ExcluirEsse livro deveria ser leitura obrigatória da VIDA né?! Gente que livro tocante...a história é tão linda que no fim eu chorei de felicidade,não de tristeza! Tici sua resenha tá linda!!! Eu amei amei amei! Fofíssima! Passei pra ver a Tag, mas não me aguentei quando vi Passarinha aqui, rs!
ResponderExcluirBeijão!
Karina
Livrofagia || Fanpage
Tici amei demais a resenha <3 Você usou as palavras tão bem e já pude me sentir mergulhando na história! Sempre quis ler esse livro, porque os comentários só são positivos e depois dessa sua resenha <3 <3 <3
ResponderExcluirUma vez, quando era pequena, assisti um filme em que dois irmãos eram autistas, mesmo sendo criança me emocionei muito até que lembro até hoje da história, só não lembro do nome do filme. E naquela época (e até hoje) fico pensando como deve ser ver o mundo dessa forma diferente, em preto e branco como você disse.
Sou apaixonada por essa capa, acho tão sensível e representativa. E me apaixonei por cada um dos quotes! Além disso, sinto que vou chorar muito quando ler. Estou tentando imaginar a dor de perder uma das únicas pessoas que te entendia e te auxiliava nessa loucura que é o mundo.; se já é difícil para nos imagina para quem em essa dificuldade a mais.
Quando ler te conto o que achei, Tici!
Adorei as fotos também e a resenha está muito muito maravilhosa :3
Beijão!
http://vanille-vie.blogspot.com.br/
Oi Tici!
ResponderExcluirJá tinha lido algumas resenhas de Passarinha e fiquei morrendo de vontade de lê-lo. Agora, lendo a sua, estou mais impressionada ainda! Nunca tinha lido nenhum sick-lit que tratasse da Síndrome de Asperger, mas já assisti a um filme maravilhoso que trata disso, Loucos de Amor, acho. Os meus sick-lits só têm o câncer como assunto. :( Estou louca para conhecer a Caitlin, não vejo a hora de poder ler o livro com as palavras dela! Beijos!
Letícia Valle
Litteratura Mundi
Ticiiii adoro livros que contem referencias de outros, mostra o quanto o autor se envolveu com tal obra! Li ótimas resenhas sobre este livro, a capa br ficou lindíssima, muito mais que a americana diga se de passagem, como sempre a Valentina arrasando!
ResponderExcluirBeijos Joi Cardoso
Estante Diagonal