O lar que não é seu

7.10.16


Se me permitem um pequeno spoiler sobre o novo filme do Tim Burton (), é que O LAR DA SRTA. PEREGRINE PARA CRIANÇAS PECULIARES já começa com uma identificação: em um cenário de praia, o protagonista Jake se questiona sobre o sentido de sua adolescência, em que as ações de ontem se repetem no hoje, todas sem nenhuma importância - como pegadas na areia que logo serão apagadas pela água do mar.

Eu acredito que a maioria das pessoas já deve ter se sentido assim em algum momento da vida. Você segue o fluxo, meio distraído, meio ausente, numa eterna repetição de ações sonolentas. Mas lá dentro do peito, sabe que está vivendo assim porque ainda não encontrou o seu lugar. Não sabe o que é de fato pertencer.

É como ter um quarto só seu que você não consegue decorar, não importa o quanto tente porque isso não vai te ajudar a se sentir como se pertencesse mais ali. O poster da banda favorita, o cobertor da cor que mais te agrada... são apenas acessórios para maquiar uma erva-daninha invisível que sobe pelas paredes. Mas como saber se esse é um sentimento passageiro ou se vai durar para sempre?

Porque há aquelas pessoas que nunca vão se encaixar. Aquelas que realmente não foram feitas para esse mundo. Os incompreendidos, os desbravadores, heróis de suas próprias tragédias. Aqueles que estão dispostos a deixar tudo para trás por um novo começo. A ficção os torna sonhadores, e os sonhadores criam as melhores ficções.

A ficção deu a Jake um novo lar para pertencer; a realidade deu a Tim Burton a capacidade de imaginar refúgios à sua maneira. Então, seja realidade ou ficção, não há desonra em não-pertencer, não é o fim do mundo, considerando a infinidade de mundos que há por aí. Acredite, você ainda vai encontrar o caminho para transformar suas angústias em inspiração. Enquanto isso, faça como o Jake: apenas saia para andar. Ficar parado só vai te manter dentro do lar que não é seu.

SOBRE O LAR DA SRTA. PEREGRINE PARA CRIANÇAS PECULIARES: O filme é todo Tim Burton e menos Ransom Riggs. Visualmente é impecável, com brumas, sombras e raios de sol em convergência. A morbidez cômica resgata o saudosismo dos trabalhos do Tim, e sobrenaturalidade da Evan Green é a cereja do bolo. O final é meio corrido, mas no todo o resultado é bem agradável.
[Foto: Variety]

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2 Bilhetes

  1. Deixa eu dizer que sou Jake procurando um lugar no mundo onde minha peculiaridade se encaixe? Eu adorei o filme mas adorei ainda mais esse texto <3

    www.blogrefugio.com

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    Respostas
    1. #SomosTodosJake hahaha
      Ceci, fiquei muito feliz de saber que você se identificou com o texto e espero que você descubra o seu lar muito em breve <3

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