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Bibbidi-Bobbidi-Boo e a polêmica da Cinderela submissa - Feito Poesia

Bibbidi-Bobbidi-Boo e a polêmica da Cinderela submissa

29.3.15



Eu vi a versão live-action de Cinderela que está nos cinemas (tá lindo, gente ) e eu também vi a crítica que o filme está recebendo por trazer de volta a figura da mulher como submissa. Então resolvi, dessa vez, escrever sobre a mensagem do filme mais do que sobre a produção em si, até porque acredito que muitos queiram assistir e estão fugindo dos spoilers. O foco dessa postagem então é pensar se a Cinderela do filme foi realmente submissa. 

Tenha coragem e seja gentil é o ensinamento que a Cinderela recebe de sua mãe e que o encara como uma promessa durante todos os anos seguintes de sua vida. Assim, Cinderela é gentil com os empregados e com os animais da casa, inclusive os pequenos ratinhos. Cinderela é gentil até com a madrasta e com as irmãs postiças que não a tratam bem. Por quê? Quer e precisa ficar perto da memória de seu pai e de sua mãe que estão naquela casa.

No momento que a humilhação fica insuportável demais, a garota sai em disparada cavalgando e encontra um rapaz que ela não sabe que é o príncipe do reino. A partir daí, a história segue até o felizes para sempre, que algumas pessoas enxergam que tenha um teor machista por ser o príncipe que a resgata daquela vida maltrapilha e opressiva. Wait, what? Será que é isso mesmo? Por que ninguém para pensar no quanto é a própria Cinderela que tece o seu destino?


É a sua gentileza, sua bondade, sua inteligência, seus jeitos que fazem com que o príncipe se apaixone por ela. Cinderela ainda o confronta quanto às caçadas, e logo depois vemos o príncipe usar o mesmo argumento, mas agora para os assuntos políticos do reino. Cinderela ergue a sua voz no momento que mais se esperaria submissão dela. Isso é uma postura submissa onde?! Frente às dificuldades, ela poderia ter se matado ou matado a madrasta e sido enforcada depois ou poderia simplesmente ter aceitado a proposta de Lady Tremaine. Não fez nada disso, continuou sendo ela mesma, e é isso que importa. Pois, no fim, são as boas ações da Cinderela que a conduzem ao seu final feliz; o príncipe é apenas a sua forma de magia.

Além disso, a história é um conto de fadas, e contos de fadas têm príncipes, princesas, bruxas e fadas, então parem de implicar com a figura do príncipe! E mesmo que se coloque tudo em um contexto do século XXI, a mensagem central de Cinderela não se altera. Onde há gentileza, há bondade. E onde há bondade, há magia. Há e sempre haverá grandes e pequenas formas de magia no mundo, que alguns poderão chamar de acaso, sorte ou coincidência. Mas, seja qual for o nome, essa magia é fruto da sua contribuição para o mundo, do que você realmente é.


Não estou dizendo que todo mundo deveria apenas sentar e esperar que a sorte chegue até você (até porque a Cinderela passou noites costurando o seu vestido para poder ir ao baile). Muito menos acho errado assumir uma postura mais concreta de ir atrás do que você deseja sem esperar pelo turning point surpresa da sua vida. Apenas, por favor, maneirem nessa mania de sair distribuindo conotações negativas a tudo que você assiste, lê ou ouve, envenenando significados.

Porque o problema começa quando as pessoas passam a confundir bondade com submissão; gentileza com tolice. Pessoas boas são consideradas chatas, sem graça ou bobas, que estão sempre cedendo o seu lugar. Ninguém mais vê "vantagem" em ser bom. Ao mesmo tempo, há uma supervalorização da vilania, do jeito fácil de se conseguir as coisas, do "jeitinho"; a ponto de Lady Tremaine sair mais estimada pelo público do que a Cinderela; a ponto das pessoas começarem a questionar a influência dos contos de fadas nas crianças (!!!) ou de recusarem um pedido de ajuda pensando apenas no benefício próprio. Como isso foi acontecer?!

Acredite em mim, pessoas gentis sempre têm mais a ganhar; elas não são fracas ou menos inteligentes. Peguem a J. K. Rowling como exemplo. Vejam a história dela; o seu histórico de bondade, sabedoria e solidariedade antes e depois da fama e talvez vocês entendam por que a magia sorriu exatamente para ela.



Cinderela não é uma história sobre um príncipe salvando uma donzela indefesa. Cinderela é antes de tudo uma história sobre uma garota salvando a si mesma todos os dias enquanto decide seguir pelo caminho mais difícil, que é o da bondade. Ela é a sua própria heroína; ela é tão guerreira quanto quem carrega uma espada. O filme não quer que você vire uma mulher submissa, o filme não quer que você enxergue no casamento a única forma de ascensão social ou de felicidade, e eu duvido muito que alguma criança saia do cinema com esse pensamento deturpado. Crianças veem o mundo de outra forma.

A jornada da Gata Borralheira é, então, um manifesto pela gentileza; uma forma de relacionar bondade com magia, de resgate à cultura da amabilidade. Cinderela nos convida a ser a cada novo dia um pouco mais gentis do que no dia anterior, e se mais pessoas optassem por esse caminho, se mais pessoas procurassem pelo lado positivo das coisas mais do que o negativo, o mundo hoje seria bem mais agradável. O mundo teria muito mais magia.

P.S.: Eu não lembro mais de todos os detalhes da Cinderela do desenho da Disney, nem conheço todas as versões que já foram criadas. Escrevi essa postagem apenas considerando a 
Cinderela apresentada nessa versão live-action. 

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12 Bilhetes

  1. Eu ainda não assisti, mas pelo que você falou a história parece ser um pouco diferente da do desenho original. Porque realmente, a versão animada de Cinderella é bem machista e ela é bem submissa. Acho que aos poucos os produtores dos filmes vão percebendo que isso é idiotice e vão mudando algumas coisinhas. Quem sabe, daqui um tempo, as princesas possam viver vidas de nobres guerreiras fortes e corajosas, sem precisar de um príncipe do lado para encorajá-la. Beijos, adorei post! ❤

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  2. Esse post me emocionou! Não é a primeira vez que me emociono lendo seus textos obviamente, mas concordo muito com você em tudo o que você disse nesse texto. Amo a Cinderela, amo a gentileza e a paciência dela, a forma como ela suporta as adversidade e constrói amigos entre aqueles que estão, como ela, em estado de fragilidade social (há algo mais frágil que a vida de ratos em uma casa com um gato?)... E ela encontra, com a ajuda de alguém o seu sonho de contento...

    Amo a Fada Madrinha, meu personagem favorito da história dela, a pessoa mais velha que aparece quando a gente precisa de ajuda e está pronto para ser ajudado e nos empurra rumo ao desfecho feliz!

    Nossa, suas palavras me emocionaram... que post inspirado!

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    Respostas
    1. Fui assistir esse filme ontem, lembrei muito de sua resenha. Cada palavra condiz com a realidade do filme. Ele é lindo!!!

      Pandora
      O que tem na nossa estante

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  3. Oi :) Tudo bem?
    Adorei tudo o que escreveu. Ainda não vi o filme (cá em Portugal sai apenas dia 2) e por isso ainda não tinha tido noção dessas críticas negativas, mas lendo os seus argumentos concordo com você. Uma pessoa que escolha ser bondosa e gentil com quem é mau em vez de ir por outro lado não é submissa. Tal como você disse, ela conseguiu o príncipe por mérito e iss conta.
    Beijinhos
    http://fofocas-literarias.blogspot.pt/

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  4. TICI, CALOU A BOCA DA SOCIEDADE!!!!!!!! Gente, meu deus, você me entende em tantas coisas, que ah, toma aqui corações ♥♥♥. É exatamente isso, as pessoas começam a falar mal ainda mais de uma história, que meu deus, é um clássico da Disney! Falam como se a história da Cinderela tivesse sido criada agora e tivesse sido apresentada para as pessoas apenas esse ano. Totalmente errado. Acho que chegamos numa era de que, criticar tudo, acaba sendo "o legal". Qual o problema de gostar? Qual o problema de apreciar? Não entendo, não entendo mesmo.

    Beijos, Carol
    www.girlfromoz.com.br

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  5. Ainda não vi, e, sem a real visão do que é o filme, concordo contigo: gentileza não é sinônimo de submissão. Espero que o filme tenha mesmo essa mensagem, e não se trate apenas de uma menina acomodada que se deixa ser humilhada, esperando que algum príncipe ou fada madrinha a salve.
    Bjss
    sete-viidas.blogspot.com

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  6. Oie,
    menina estou doida para ver o filme, isso sem contar o Frozen que tem antes rsrsrsr
    Realmente a história o príncipe resgata ela, não tem muito o que fazer, não é?

    bjos
    http://blog.vanessasueroz.com.br

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  7. Primeiro deixa eu me recuperar dessa foto perfeita de mozão Richard.
    Tá, me recuperei. E agora não tô sabendo lidar com a lindeza feat. perfeição desse post, Ticilinda <3
    Eu nem sei qual a minha princesa favorita, mas também acho super injusto todo esse preconceito em torno delas e acho que alguns desses novos filmes vem justamente pra quebrar com isso, pena que algumas pessoas não conseguem enxergar. O ponto que mais me chamou a atenção no seu texto foi o da bondade. Porque eu sempre ouvi que por ser boa com os outros e ajudar quando precisassem eu deixava as pessoas pisarem em mim, e sempre fiquei "Gente não é por esse caminho não, ok?". Mas pra que enxergar o bem, se eu posso virar a cara para o outro lado e não encarar os fatos, não é mesmo? E creio que como muitas coisas na ficção o príncipe seja uma metáfora. A recompensa (ou seja, a magia finalmente sorrindo pra ela) foi ela encontrar o amor da sua vida e ser feliz pra sempre, mas pra cada um de nós pode significar uma coisa diferente e não necessariamente um príncipe encantado (mas claro se o Richard quiser bater aqui em casa, não vou reclamar).
    Beijos e parabéns pelo post, sis ❤
    Debora.
    http://vanille-vie.blogspot.com.br/

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  8. Oi Tici, sua linda, tudo bem?
    Sem palavras!!!!!! Adorei sua crítica. Você como sempre arrasou!!! Nossa, não tinha a menor ideia de que esse filme estava causando polêmica. E me sinto da mesma forma que você: como aconteceu de agir com bondade, com amor, ser errado? Eu falo, sem nenhuma vergonha, de que adoro contos de fada e mais, acredito em amor verdadeiro e porque não em príncipes encantados? Mas não com essa conotação que estão tentando atribuir.
    Eu não entendo as pessoas. É um filme mágico, que nos traz a mensagem de esperança, fé, amor verdadeiro, de que tudo dá certo, quando você se mantém no caminho certo.
    Estou muito surpresa mesmo.Não vejo a hora de ver o filme, que pelas fotos ficou lindo.
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  9. Digitando com os pés porque com as mãos estou aplaudindo! Que post incrível! Sério mesmo, parabéns.
    Cinderella nunca foi minha princesa preferida, na verdade eu a achava meio sem ação. Não sei se é porque sou esquentadinha, barraqueira e desaforada, mas sempre achei que ela se acomodou a toda a situação de ser criada da madrasta e das irmãs. Mas o live-action mudou totalmente minha visão. E seu post está aqui para confirmar essa ideia. O filme é muito lindo, e bastante fiel à animação, mudando pequenas coisas que não influenciaram de forma negativa, pelo contrário. Pela primeira vez senti um carinho por Cinderella, um orgulho. O filme traz mensagens incríveis e eu não poderia dizer mais nada que você já não tenha dito aqui. Eu estou tão empolgada que não sei nem por onde começar a falar. Tudo maravilhoso <3
    Beijão

    www.blogrefugio.com

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  10. Nossa, ainda bem que não esta crítica. Serio da onde tiraram isso? E tipo, da onde um conto de fadas deveria ter este tipo de discussão? Infelizmente acho que esta na moda polemizar tudo, ainda mais envolvendo, mulheres, submissão, e afins sem nexo algum. Adorei tua argumentação Tici, acho que realmente falta bondade e gentileza e magia no coração de muito crítico por aí, principalmente os que veem filmes =/

    Beijosss Joi Cardoso
    Estante Diagonal

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  11. Ai Tici, sério, concordo em gênero, número e grau. Na boa, não gosto de filme live-action e não assisto nenhuma adaptação, mas o povo exagera. Meu Deus. Tudo hoje em dia é opressão. A pessoas simplesmente estão começando a procurar chifre em cabeça de cavalo. Pelo que li da sua crítica, a Cinderella não me pareceu nada submissa, e sim, autêntica. Parabéns pelo post, de verdade.

    Um beijo!
    Belle Hendges

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