Um gato de rua chamado Biscoito

28.1.17


Ele apareceu do nada, todo arisco. Cicatriz longa do lado do corpo, olhinhos de quem já tinha visto coisas demais para a pequena idade e uma desconfiança que, caramba, para conseguir tira-lo da rua foi um sufoco! Então ele passou uns dias num quartinho, escapou do quartinho e... voltou para o mesmo lugar só para fazer o charme de ser pego de novo.

No dia 2 de julho ele veio aqui para casa. Não demorou muito para se enturmar com o irmão mais velho que ele passaria a dividir comida e a atenção da dona. Um mês depois já estava totalmente à vontade, totalmente carinhoso, a cicatriz totalmente coberta. Ronrona que é uma coisa, não perdeu o hábito de fuçar lixo atrás de comida e brinca com qualquer pedaço de pau ou tecido que achar pelo caminho.

Ganhou 4 nomes, o meu favorito sendo Biscoito. E durante todo esse primeiro mês de adaptação, eu ouvi a minha mãe repetir a mesma frase várias e várias vezes: ele sobreviveu porque é feliz


É, é clichê. E talvez a gente não valorize mais o clichê da mesma forma que antes, mas não posso deixar de concordar com o quanto a minha mãe estava certa. Biscoito é feliz porque a felicidade é algo que ele mesmo constrói, não algo que ele espera. "Vi uma vez esse gato atravessando a rua correndo e outro dia ele estava tentando subir numa árvore. Que bom que agora está seguro", disse um dos nossos vizinhos.

Curioso, esperto, brincalhão... Biscoito é feliz com a gente, é feliz com o V e é feliz sozinho. Ele pula na janela e olha para a rua não com saudade, mas com uma cumplicidade e respeito de quem divide um segredo mútuo, de quem fez da rua uma velha e sábia amiga.


Mas a longa cicatriz ainda existe, escondida (o melhor chute é que tenha sido arame farpado). Biscoito continua muito desconfiado em relação a humanos. Quando vem visita aqui em casa, ele some para uns dos quartos e só reaparece quando a visita já foi embora. A gente não pode mudar o que quer que tenha acontecido com ele, mas pelo menos hoje ele tem um lar, uma família, todas as regalias que um gato pode desejar e uma torcida gigantesca para que o tempo o deixe mais sociável com outras pessoas. E mesmo se não deixar, Biscoito é feliz assim... e é isso que importa :)

Trate bem um animal de rua, mesmo que você não possa adotá-lo. Às vezes um carinho, pedaço de comida ou uma pequena atenção já é o suficiente para fazer a diferença.

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